28 de fevereiro de 2013

Deixaste marcas no meu corpo.
Quanto mais o olho, mais sinto que há muito que deixou de me pertencer.
Preciso que mo devolvas. Que lhe tires a etiqueta. Que o laves na máquina e o ponhas a secar.
Devolve-mo dobrado e passado. Sem cheiro a ti. Sem que olhe para o ombro e me lembre de um beijo. Sem que olhe para a perna e me lembre das tuas mãos. Sem que mexa nos lábios e sinta a tua língua. Sem que penteie os cabeços e me lembre do carinho.
Sou tão tua que sem as marcas de ti, não seria eu.

26 de fevereiro de 2013

As tuas cores eram sangue e fogo.
O teu cheiro maresia povoado de neblina.
Nas mãos trazias o ondular das árvores no outono e no sorriso o pôr do sol num abraço. 
Vi-te por dentro, onde melhor te sei. Nas dobras da pele.
Devorei-te em cada som que emitiste na pauta do desejo e perdi-me no momento em que fechei os olhos de êxtase. 
Eras sonho bordado no meu olhar de menina, que me ficou em gota no negro das pestanas.
Há dias em que te odeio.
Dias em que te amo perdidamente.
Dias em que enlouqueço revoltada pelo silêncio.
Mas em todos esses dias és tu que me habitas.
Que me preenches os espaços vazios.

Torna-se urgente esvaziar-me de ti.

25 de fevereiro de 2013

Deixas-me na pele um sabor agridoce. 
Lambo os dedos com a ponta da língua.
Quero entranhar-te em mim.
Não só na pele, por baixo dela, entre as unhas, dentro das pálpebras.
Fica.

24 de fevereiro de 2013

"Volta até mim no silêncio da noite
a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausência não embacie
o vidro da memória, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos. Volta
com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
vestido com a mortalha da névoa; e traz
contigo a maré da manhã com que
todos os náufragos sonharam."

Nuno Júdice in «O Movimento do Mundo», Poesia Reunida 1967-2000


(Sei que não voltas e a tua ausência já tem os meus olhos por baços e no mais puro estado líquido. As tuas palavras, essas, colaram-se na memória. As mesmas que me fizeram sorrir, são as que me fazem agora tropeçar nas gotas que insistem em saltar-me dos olhos. Sou um náufrago.)

23 de fevereiro de 2013

"Eu sei que algures, mais adiante na minha vida, hei-de encontrar quem esteja em casa à minha espera quando eu chegar. Sim, eu sei, está escrito, é sempre assim. Mas era agora que eu queria não sentir este vazio, não te sentir tão distante, tão longe do deserto. Queria só dar um sentido à nossa viagem. Já sei, já sei que nada dura para sempre - só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? Com o tempo contado, com tudo previamente estabelecido e com prazo de validade previsto à partida? Foi só isso, diz-me, foi só isso o nosso encontro? Não ficou mais nada lá atrás, não deixámos nada de nós os dois no deserto que atravessamos?"

Miguel Sousa Tavares in No teu Deserto

(E tu? Consegues responder? É mais fácil calar. Depois de tudo que ouvi dessa boca que tantas vezes amei, não deve ser fácil admitir que se mentiu. Não sei como se vive com a consciência pesada, se calhar vive-se quando não se tem uma. Nunca vou entender o porquê de se mentir, porque não faz parte de mim, não tenho gosto nem ganho nada em dizer coisas que não sinto nem quero sentir. Ganha-se tão mais em ser sincero, mas tão mais e seria tudo tão mais fácil. Não suporto cobardia, dá-me pena. E dizem que a pena é o pior sentimento que se pode ter por alguém.)
"E quando amamos alguém o que dela queremos é amor, do mesmo modo que quando vamos à farmácia queremos medicamentos. E houvesse um que nos fizesse esquecer quem amamos e não nos ama e aqui vos juro que o tomaria todo. As caixas que houvesse. Mas não havia. Nunca houve."

Fernando Alvim, Amo-te Para Sempre, Contos Digitais do DN

(Eu também o tomaria todo, todo o que houvesse, todinho mesmo. Mas não há.)

22 de fevereiro de 2013

"Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste."

Nuno Júdice in Poesia Reunida 1967-2000

(Mas é isto o amor... Sim, é isto o amor, a mais certa certeza, até ao fundo do mundo que me deste. Não o poderia dizer melhor e por vezes faltam-me as letras para as palavras. Neste momento, acho que me falta tudo, até o chão.)

21 de fevereiro de 2013

Is there a cure for this pain
Maybe I, I should have something to eat
But food won't take this emptiness away
I'm hungry for you my love

Well I made it through another day
In my cold room
On scraps and pieces left behind
I survive on the memory of you

All of me is all for you
You're all I see
All of me is all for you
You're all I need

Is there a remedy for waiting
For loves victorious return
Is there a remedy for hating
Every second that I'm without you

All of me is all for you
You're all I see
All of me is all for you
You're all I need

All this life is all for love
It's the only road I'll choose
And every street and avenue
Only one will lead me back to you

One Love, One Love, One Love
One Love, One Love, One Love


Angus and Julia Stone - All of me

http://www.youtube.com/watch?v=T-hWSjjZ4hY&list=PL1D3C3C32C16EB45F

15 de fevereiro de 2013




Guarda-me... No peito, nos dedos, nos lábios, nas pestanas. Guarda-me o olhar, o sorriso, a gargalhada. Guarda-me o cheiro, o sabor. Guarda-me debaixo da pele onde te sou e pertenço. Guarda-me contigo. Guarda-me em ti.
Guarda-me...

13 de fevereiro de 2013

"Mentir pode ser um exercício de inteligência em que a realidade é reinventada. Essas alterações transportam consigo outras, numa reacção em cadeia, até perturbarem toda a paisagem. Não é fácil, pode ser perigoso. Quando comei a mentir deixei de poder parar de mentir, uma mentira erguendo-se sobre outra. Sei que me é impossível voltar atrás, recomeçar tudo de novo. Mesmo que o quisesse - e não quero, seria demasiado doloroso e inútil - não me é agora possível destrinçar o que aconteceu do que podia ter acontecido, o que vi do que quis ver mais do que tudo, o que disse com o objectivo consciente de seduzir, aumentar o meu poder defendendo-me do mundo, do que disse com o coração na boca, a tremer, como se tivesse pouco tempo de vida. A minha vida nada tem a ver com o que escrevo."

Pedro Paixão
in 47 W 17


Acho que, finalmente, descobri respostas a algumas perguntas.

12 de fevereiro de 2013

Queria enterrar-te em qualquer lugar longínquo, mas há uma parte de mim que te pertence.
E não consigo parar de chorar. De raiva, de desespero, de qualquer coisa que me consome por dentro.

Somehow i still feel your warmth behind me
Somehow I still feel your breath on my neck