23 de fevereiro de 2013

"Eu sei que algures, mais adiante na minha vida, hei-de encontrar quem esteja em casa à minha espera quando eu chegar. Sim, eu sei, está escrito, é sempre assim. Mas era agora que eu queria não sentir este vazio, não te sentir tão distante, tão longe do deserto. Queria só dar um sentido à nossa viagem. Já sei, já sei que nada dura para sempre - só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? Com o tempo contado, com tudo previamente estabelecido e com prazo de validade previsto à partida? Foi só isso, diz-me, foi só isso o nosso encontro? Não ficou mais nada lá atrás, não deixámos nada de nós os dois no deserto que atravessamos?"

Miguel Sousa Tavares in No teu Deserto

(E tu? Consegues responder? É mais fácil calar. Depois de tudo que ouvi dessa boca que tantas vezes amei, não deve ser fácil admitir que se mentiu. Não sei como se vive com a consciência pesada, se calhar vive-se quando não se tem uma. Nunca vou entender o porquê de se mentir, porque não faz parte de mim, não tenho gosto nem ganho nada em dizer coisas que não sinto nem quero sentir. Ganha-se tão mais em ser sincero, mas tão mais e seria tudo tão mais fácil. Não suporto cobardia, dá-me pena. E dizem que a pena é o pior sentimento que se pode ter por alguém.)

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