28 de junho de 2013

“Pior do que a morte só matar um amor dentro de nós. E até eu o sei. Até eu o sinto. E é esse o maior dos méritos que ela tem. Ou o maior dos problemas que ela me deixou. O mais perigoso de todos os legados que ela me vai deixar quando eu tiver a força para a deixar. O legado do sentir. Até eu aprendi a sentir quando ela me ensinou a senti-la. 
Ninguém é mais cruel do que aquele que ensina a sentir tudo e depois só oferece uma parte do que sente.”

Pedro Chagas Freitas

24 de junho de 2013

PORQUE ME APETECE#42

"Onde se encontra o que nos perdemos?
O que não te perdoo é fazeres-me feliz. Amar quem nos faz infelizes é uma desgraça; mas amar quem nos faz felizes é uma tragédia. O fim do mundo à mercê de uma só pessoa. É quando te olho que nem a justiça acredita no livre arbítrio. 
Há o perigo de uma morte eterna quando se ama assim. 
Na manhã primeira da tua ausência, até os gatos se esqueceram de miar, deitados no chão como se soubessem que as tuas mãos já não chegam, e a pele que te pediu toda a noite rejeita o sol, porque nada do que dá luz consegue tirar-me uma escuridão assim. Por toda a casa estás tu em toda a casa, o chão com os teus dedos (tão pequenos, os teus dedos, quando caminhavas em silêncio de madrugada, e tudo o que queria era olhar-te a andar de pés descalços ao centro de um mundo que não soubemos guardar), a casa de banho com os teus produtos de limpeza, o teu perfume, o teu champô; estás em todo o lado, permaneces aqui deitada na cama onde me deito contigo, haja quem houver ao meu lado, todas as noites de todos os dias. E é quando te cheiro que acredito que até o nariz sabe o que é amor. 
Amo-te com todos os sentidos do meu corpo. 
Ainda me levanto a acreditar em nós. E se houver uma morte justa é um para o outro que morreremos. “E morreram felizes para sempre” é o que ainda espero da vida.
Não fiques convencida mas acho que és a minha morte favorita. 
Procuro-te em cada mulher que me procura, e em cada uma há um pedaço de ti, um sorriso aqui, uma expressão ali, e é assim que te amo aos pedaços, que te consumo às peças, desesperado e lento, em busca de sensações pequenas que juntas te tragam inteira. Amar é muitas vezes juntar fragmentos para conseguir um todo que não existe, que não voltará a existir, mas que ainda assim continua a existir e nunca deixará de existir. Não sei se é possível a vida depois de ti, mas sei que enquanto houver corpos que te tragam aos poucos vou conseguir aguentar. Volta para sempre ou nunca mais apareças. Imaginar que um dia voltas só me faz imaginar que um dia partes. E eu posso aguentar tudo menos outra vez as tuas costas a virarem, outra vez a sensação de que é possível um corpo ficar oco por dentro quando se perde um amor tão pesado. 
Posso aguentar tudo menos tu inteira a levares-me inteiro. 
Quero a vida toda a amar os teus braços. Quero as conversas sem sentido na cama antes de deitar, o prazer eterno de nos sabermos para sempre; e nada do que é material nos consegue tocar, porque o que nos junta são certezas e nenhuma dúvida sabe qual é a nossa morada. Sabes que és de mim como és da vida, e que por mais afastada que queiras estar só te encontras quando me pertences. Despeço-me de ti todas as noites, imagino-te no teu ritual de adormecimento (mãos entrelaçados como se pedisses ao céu que te desse mais um dia, só mais um dia, de vida para gozar), antes de te abraçares a um qualquer corpo que sabes que sou eu e que eu sei que somos nós. Quando estiveres farta de sofrer podes voltar. E até lá livra-te de não teres todos os orgasmos possíveis, para que regresses pura ao princípio do nosso tempo. 
Somos o orgasmo primordial sempre que regressamos aos corpos. 
E se a imortalidade existir já vem depois de nós."

Pedro Chagas Freitas


(Ficam estas palavras a bailar-me por dentro... Posso aguentar tudo menos tu inteiro a levares-me inteira.)

19 de junho de 2013

"Nunca mais acabas de partir
é um horror a tua viagem
para longe de mim, o teu
regresso a uma vida onde
não tenho lugar, o teu
regresso a um lugar onde
não faço sentido, a tua
infinita partida, os teus
despojos por todo o lado,
é um horror tu dentro de
todos os poemas."

Sarah Adamopoulos

15 de junho de 2013

"Sei das horas muito longas
como estradas de chegar a ti
Uma mão aberta em dedos
um cigarro a arder calado
o copo de um vinho triste
e música às voltas de mim
Sei um nome que já não és
como resto de língua antiga
ou os beijos que me davas
ou o gato que já morreu
Tinhas a boca em forma de dor
e as noites em letras de versos"

Nuno Camarneiro
in http://acordarumdia.blogspot.pt/2013/06/tarde.html

10 de junho de 2013

"Desejei-te ontem, de mais, e hoje também. Todos os dias são o mesmo dia quando te desejo assim. Só penso em ti. És inigualável. De olhos fechados consigo encontrar-te noutros corpos, mas só o teu amo de olhos abertos.

Quando te escrevo tu não foges das minhas páginas. Quando te escrevo tu ressuscitas a minha alma. Acompanho o teu sorriso de longe e de perto, meu príncipe das trevas, lindo. Guardo comigo o teu olhar e sei que te recordas do meu corpo a tentar convencer-te que o meu amor é inteiro, embora nunca o seja bastante. É bom desconfiar do amor porque ele às vezes é traiçoeiro, metamorfoseia-se em reles sentimentos, eras tu que mo dizias. 

Eu não concordo."

Pedro Paixão in Príncipe, Asfixia

8 de junho de 2013

PORQUE ME APETECE#26


"O drama de amar é não haver sucedâneos.
E tudo o resto sabe a merda. Porque houve o teu abraço, porque existe o teu cheiro. Amei-te para sempre mesmo que já não te ame. Ficou em mim a tarde em que pela primeira vez o nosso corpo (o teu arfar a mostrar-me que língua se fala no céu, a tua boca a mostrar-me o tamanho de um beijo), e a partir daí fiquei órfão de um corpo sempre que não fosse o teu corpo. E quando chegou o dia da despedida eu soube que tinha chegado o dia de para sempre. 
O drama de amar é não admitir a morte.
Há uma mulher a mais sempre que amo um corpo que não é o teu. E um homem a menos. Deito-me, aperto, espremo (o encaixe perfeito das tuas costas nos meus braços, o cheiro dos teus lábios no suor do meu pescoço). E até um orgasmo comprova a hipocrisia da carne. Despedi-me de orgasmos quando me despedi de ti. Já me deitei com tantas e é sempre o teu boa noite que me adormece. 
O drama de amar é só criar réplicas.
Tudo o que amo és tu. Uma boca, uma pele, um sexo. Tudo o que amo és tu. E não há mais perfeito oximoro do que "amor novo". Só o teu amor é novo. E não existe sucessão quando se reina assim. Amar-te é uma monarquia fascista, uma ditadura dentro de mim. O que vem depois de ti só vem depois de ti. Sempre depois de ti. A toda a hora depois de ti. O que vem depois de ti só vem depois de mim, e onde eu estou ou estou sozinho à tua espera ou estou sozinho contigo. Se existe amor é porque existes tu."
O drama de amar é amar-te."

Pedro Chagas Freitas

(É tão, mas tão isto... que até arrepia de tanto ser isto e pedir que não fosse nada disto!)

7 de junho de 2013

“Podias ter fodido tudo menos a ilusão. (...)
A maior filhadaputice do mundo é o fim de uma ilusão. (...)
Quando se fode a ilusão, está tudo fodido. (...)”

Pedro Chagas Freitas


(Um dia publico o texto todo. Mas hoje não, não se adequa. Hoje é só isto. Descobri que me fodeste a ilusão.)

5 de junho de 2013



Quisera eu entender.
Puderas tu perceber.
O porquê de a cor dos meus olhos
apenas combinar com a cor dos teus.