30 de janeiro de 2017

There.

Por vezes as palavras pulsam na violência do desejo: esse fio fino e sensível a dilacerar a pele, a dilatar os poros. Abrir o livro, encontrar-te sempre nas mesmas páginas é o principiar de uma viagem pela volúpia. É doar a minha carne aos teus sons. A impossibilidade de estar contigo agudiza-me os sentidos. Escrevo. O meu corpo quer dissolver-se nestes instantes em que a gravidade revela a sua presença. Ser névoa espessa e dourada. Habitar-te por parte completa das cores que desconheces.
Mordes-me a realidade. Recordas-me que por muito que escreva a palavra exacta será sempre a que guardas abotoada na margem dos teus lábios. Alienar-me com o texto onde és a minha - perfeita - linguagem paradisíaca.




16 de janeiro de 2017


Escreve-me uma carta.
A última das cartas.
Despeja todas as palavras que me querias dizer e não disseste.
Todos os sentimentos.
Todas as frustrações.
Todos os beijos, abraços e carícias.
Todos os dias maus e bons.
Todo o prazer e luxúria.
Todas os erros, teus e meus.
Não deixes nada por dizer, nada por sentir.
Esvazia-te no papel, nas letras, na pontuação.
Escreve-me...

Escreve-me.

11 de janeiro de 2017

Porque será tão difícil esquecer o que magoa?
Esquecemo-nos tantas vezes das coisas boas.
Mas as más... As más... essas parecem que nos assombram.
Tanto que queria um botão de ligar e desligar.
Tanto que queria esvaziar-me!